
Nos últimos anos, a expansão do Ensino a Distância (EAD) no Brasil trouxe importantes avanços no acesso à educação superior, especialmente em regiões onde a oferta presencial é limitada. No entanto, quando se trata da formação de professores e de profissionais da saúde, a flexibilização excessiva da modalidade EAD 100% online levanta sérias preocupações quanto à qualidade do ensino, à formação ética e prática dos alunos, e à segurança dos futuros atendimentos prestados à população.
Nesse sentido, a proposta de proibir cursos 100% EAD nas áreas de licenciaturas e saúde é uma medida necessária e urgente. A formação de professores, por exemplo, não pode ser dissociada do convívio escolar, da observação em sala de aula e da prática pedagógica supervisionada. Um curso de licenciatura inteiramente virtual compromete a vivência prática essencial para o desenvolvimento de competências pedagógicas e socioemocionais, dificultando que os futuros docentes lidem com a realidade complexa das escolas públicas e privadas.
No campo da saúde, o argumento torna-se ainda mais crítico. Profissões como Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e Medicina exigem habilidades práticas apuradas, domínio de protocolos clínicos e, principalmente, o desenvolvimento da sensibilidade humana no atendimento a pacientes. A prática supervisionada, o contato com equipamentos, o trabalho em equipe e a interação com o sofrimento humano são elementos que não podem ser plenamente simulados em ambientes digitais. A substituição dessas experiências por vídeos, fóruns e atividades assíncronas compromete não apenas a formação do estudante, mas coloca em risco a vida de terceiros.
Além disso, há o agravante de que muitas instituições de ensino superior — sobretudo privadas — utilizam o EAD como estratégia de massificação do ensino a baixo custo, o que, sem a devida regulação, transforma a educação em um modelo industrial e comercial. Isso tende a gerar um aumento no número de diplomas emitidos, mas sem a correspondente qualidade técnica e ética dos profissionais formados.
É importante destacar que não se trata de desmerecer o uso de tecnologias educacionais. O ensino híbrido, por exemplo, pode ser uma alternativa válida, desde que mantenha uma carga horária significativa de atividades presenciais, principalmente nos estágios supervisionados e nos laboratórios. O que está em debate é a viabilidade e a responsabilidade de se permitir a formação 100% online de profissionais que, em seu exercício, influenciam diretamente a saúde, a aprendizagem e a segurança de milhares de pessoas.
Portanto, ao proibir a oferta de cursos inteiramente online para licenciaturas e áreas da saúde, o governo assume o papel de guardião da qualidade da educação e da proteção da sociedade. Essa medida não representa um retrocesso, mas sim um avanço regulatório, que reconhece os limites do digital e reafirma o valor do contato humano e da prática presencial na formação de profissionais que lidam diretamente com a vida e o futuro de outros.
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